sexta-feira, março 27, 2009

Mais do mesmo...

Por Leandro Fortes


CARTA ABERTA AOS JORNALISTAS DO BRASIL

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado “Comitê de Imprensa”, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo.

O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do “Comitê de Imprensa”, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa. Nesta carta, contudo, falo somente por mim.

Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalista, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico - de áudio nunca revelado - envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.

Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.
Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro.

O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera. Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros.
Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.

Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites.

Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes?

Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?

quinta-feira, março 05, 2009

Piadinha

Crise masculina
Quando eu completei 25 anos de casado, introspectivo, olhei para minha esposa e disse:
- Querida, 25 anos atrás nós tínhamos um fusquinha, um apartamento caindo aos pedaços, dormíamos em um sofá-cama e víamos televisão em uma TV preto e branco de 14 polegadas.

Mas todas as noites, eu dormia com uma loira de 25 anos. E continuei:

- Agora nós temos uma mansão, duas Mercedes, uma cama super king size e uma TV de plasma do 50 polegadas, mas eu estou dormindo com uma senhora de 50 anos. Parece-me que você é a única que não está evoluindo.

Minha esposa, que é uma mulher muito sensata, disse-me então, sem sequer levantar os olhos do que estava fazendo:

- Sem problemas. Saia de casa e ache uma loira de 25 anos de idade que queira ficar com você. Se isso acontecer, com o maior prazer eu farei com que você, novamente, consiga viver em um apartamento caindo aos pedaços, durma em um sofá-cama e não dirija nada mais do que um fusquinha.

Sabe que fiquei curado da minha crise de meia-idade? Essas mulheres mais maduras são realmente demais!


P.S. - Em homenagem a todas as mulheres maduras - que não significa necessariamene ser velha - e inteligentes :)

segunda-feira, março 02, 2009

As injustiças nossas de cada dia...

A cobertura das mortes de São Joaquim dos Montes (PE), atribuídas a membros do Movimento dos Sem-Terra (MST) serve para provar, mais uma vez, o quanto a imprensa brasileira é preconceituosa e elitista. Impressionante do que são capazes os “coleguinhas” – e os grupos que controlam os meios de comunicação deste País – quando querem impor um ponto de vista, uma “verdade”.

Não pretendo defender a galera acampada na tal fazenda em Pernambuco, tampouco defender a violência atribuída ao MST nos últimos anos, mas a forma orquestrada como toda a imprensa vem criticando o movimento, destacando apenas um lado da história me faz perder toda a confiança na dita democracia brasileira. O que considero mais injusto é que na hora de criticar um movimento social que eles nunca tentaram entender, vão atrás de pessoas nem um pouco isentas. È como se pedissem pro primeiro-ministro de Israel dizer o que acha dos comandantes da rival Palestina.

Por isso, perguntar do presidente do STF a opinião dele sobre o caso é jogar gasolina no fogo e sacramentar injustiças. O que dizer dos ruralistas? Obviamente que os culpados pelo assassinato dos quatro homens devem ser julgados e punidos, mas por que não usar da mesma severidade com que a imprensa e os latifundiários julgaram todo o MST para noticiar a morte de pobres e miseráveis, que pelo menos levantam a bunda – nem sempre gorda – e vão lutar por seus direitos?

Na quinta-feira (26) à noite, a matéria do Jornal Nacional contando o caso foi tão ridícula, que deu nojo. A “verdade” deles foi procurar associar sempre o MST ao presidente Lula, mostrando como os sem-terra foram beneficiados neste governo. O que é uma mentira tão grande...Até meus sobrinhos que ainda estão aprendendo a ler devem saber que a reforma agrária no Brasil está parada – uma grande vergonha para o PT.

Vendo aquilo já imaginei o que se passava na cabeça do perfil típico dos telespectadores do Jornal Nacional – aqueles chamados de Homer Simpson pelo William Bonner: “São todos uns baderneiros, bandidos mesmo”. Mesma idéia tentam impregnar em nossas mentes outros veículos. Lendo algumas matérias dos ditos mais importantes jornais brasileiros – O Globo, Folha de SP e Estadão – me perguntei se agora as pautas deles eram compartilhadas. Todas as matérias estavam escritas quase que com as mesmas palavras, ouvindo as mesmas fontes, destacando os mesmos fatos. Com certeza, pra economizar raciocínio, eles devem fazer uma reunião de pauta única.

E nessa pauta única nunca terão vez as injustiças cometidas no campo brasileiro: trabalho escravo, concentração de terras, pistolagem, etc. A Comissão Pastoral da Terra vive denunciando casos de assassinatos e ameaças a trabalhadores rurais e integrantes de movimentos sociais, mas só quem toma conhecimento é quem acessa o site da entidade, pois esses assuntos nunca são abordados pela tal “grande imprensa”. E por quê? Ah, basta tirar o olho do umbigo e olhar um pouquinho pros lados pra perceber...

Mais uma vez, repito: não concordo com a violência e não entendo algumas táticas usadas pelo MST, mas sei que não é preciso ir muito longe pra perceber que muitos têm tanto e outros não têm nada. Conversando com um amigo, me deu a curiosidade de saber quantos hectares tem a fazenda da qual ele vive falando. Dois mil foi a resposta. E o que vocês produzem lá? Ele: Nada. Acredito que a família dele deve ter trabalho bastante para conseguir tal propriedade, mas é justo deixar que dois mil hectares de terras fique assim, à toa? E aqueles que têm dez vezes mais que isso e não plantam um só pé de feijão? É contra esse tipo de injustiça que movimentos sociais ligados à reforma agrária – entre eles o MST - lutam. E se tem coisas erradas, é bom que se puna, mas de forma justa. E a imprensa brasileira, é a favor de quê??? Repito: basta tirar o olho do próprio umbigo e olhar pros lados...a resposta nem está longe.