segunda-feira, junho 01, 2009

Sobre o Grito da Terra e vergonha alheia!

Na semana passada, trabalhadores rurais de todo País estiveram em Brasília para o 15º Grito da Terra Brasil (GTB). A manifestação durou dois dias, mas a diretoria da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e dirigentes sindicais de vários sindicatos e federações ligados à Contag estavam em negociação com o governo federal desde a semana anterior.

Pra quem não sabe, a Contag é a maior Confederação da América Latina e representa mais de 20 milhões de pessoas, entre agricultores familiares, assalariados rurais, assentados e sem-terras. Neste ano, o tema do GTB, promovido exclusivamente pela entidade, foi Reforma Agrária, Conservação Ambiental e Fortalecimento da Agricultura Familiar. A cobrança por reforma agrária nunca sai de pauta, uma vez que a concentração de terras ainda é revoltante no Brasil. E os que já têm terra e produzem 70% dos alimentos consumidos no País – portanto, os agricultores familiares – estão com dificuldades para produzir porque hoje a legislação ambiental impõe as mesmas regras para quem tem um ou mil hectares de terras. Não é justo, né? Por isso, os agricultores familiares reivindicam diferenciação na legislação, especialmente no Código Florestal Brasileiro. E para continuarem produzindo, é preciso dar condições, daí o fortalecimento da agricultura familiar.

Além desses três pontos, a Contag também reivindica outras políticas públicas para o campo, que beneficiam mulheres, jovens e pessoas na terceira idade. Só pra ter uma idéia, em pleno século 21, ainda existem cerca de quatro milhões de analfabetos somente no campo, sem falar na carência de assistência à saúde, combate à violência e outros direitos básicos de qualquer cidadão.

Então, por conta do trabalho, acompanhei a manifestação – junto com as demais coleguinhas da agência – e pude presenciar mais uma vez a mediocridade de muitos moradores aqui da Terra da Fantasia. Obviamente que não é agradável se deparar com mais de quatro mil pessoas ocupando três faixas do Eixo Monumental 9h da manhã de um dia de semana, mas também não custa nada ter um pouco de paciência e prestar atenção no motivo de toda aquela galera vir de bem longe pra estar ali.

Os veículos de comunicação locais – como era de se esperar – só noticiavam que o trânsito estava congestionado e entrevistavam os motoristas confortavelmente instalados em carros novos, com ar-condicionado e som mp3. Poucos foram os jornalistas que se preocuparam em entrevistar os manifestantes. Ao invés disso, esses manifestantes tiveram que ouvir ofensas como “vão trabalhar, “desocupados” da “civilizada” gente da cidade. Haja vergonha alheia! Vergonha pela mediocridade, desinformação, pelo egoísmo e alienação de muita gente e de muitos colegas de profissão.

Falei aqui ano passado e repito. Se não gosta de manifestações populares, muda para a China, porque lá isso não é permitido. Ou para a Coréia do Norte, onde os governantes com certeza vão calar bem calado qualquer um que se atreva a reclamar de qualquer coisa. E a ignorância é tão grande que já ouvi gente dizendo que as manifestações deveriam ocorrer nos finais de semana ou feriado, como se as pessoas viessem pra cá apenas para “constar” e não para serem vistas e ouvidas por quem realmente tem o poder de fazer algo – e infelizmente são os podem fazer algo de concreto, depois que já votamos neles.

Enfim, e para quem acha que protestar não adianta nada, os trabalhadores rurais voltaram para seus estados com algumas boas notícias. Embora não tenham conseguido a totalidade do que reivindicaram, conseguiram algumas coisas que vão melhorar um pouco a vida de muitos, o que não aconteceria se tivessem simplesmente ficado de braços cruzados e esperando pela boa vontade dos nossos governantes. E esperar é o que mais a gente “civilizada” da cidade gosta de fazer, pois isso não atrapalha o trânsito. Socorro!

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