segunda-feira, março 20, 2006

Mundo Cão!

O Fantástico mostrou ontem mais uma prova de que o mundo não é cor de rosa. Pena que todos os que pensam viver num mundo assim não tenham visto qual a brincadeira preferida dos meninos que moram em favelas dominadas por traficantes de drogas. Sem dúvida, o documentário (Falcão - meninos do tráfico) é chocante, mas por um acaso alguém achava que crianças que crescem em lugares assim ficam em casa depois da escola lendo Monteiro Lobato?

O cenário é triste. A história é triste. Mas nada é mais triste do que a vida de cada uma daquelas crianças. E pensar que não será feito muita coisa para ajudá-las além de discursos em plenários e microfones de todos os tipos, sem falar em artigos de jornais, revistas (e blogs), sermões nas igrejas, etc. Com certeza, o assunto terámuita repercussão, mas se eu conheço o paí­s onde vivo, concretamente, pouco vai ser feito, nem a curto e nem a longo prazo, para ajudar a reverter a situação.

E acho isso porque eu mesma não sei o que eu poderia fazer além de mostrar minha indignação aqui. E fazer isso é tão fácil (ainda mais ouvindo Smiths, rs). Sinceramente, não adianta dizer que o problema é somente do Estado, embora ele seja o principal responsável por manter o bem-estar de todos os cidadãos assaltados com as altas taxas de impostos que abastecem seus cofres. Todos, de alguma forma, poderiam ajudar.

Penso que uma forma seria olhar ao nosso redor e perceber o que acontece além de nossas portas. Não que os problemas devam ser resolvidos por quem mora dentro da limitação geográfica onde eles ocorrem, mas sejamos práticos: se eu não posso fazer nada pelas crianças que moram nas favelas de Salvador, por exemplo, por que não olhar pelas crianças que correm risco social e estão logo ali, vendendo balas nos bares? E eu não tô dizendo que devemos ajudá-las comprando as tais balas porque isso só reforça a permanência delas nas ruas. Um começo seria procurar saber que ongs fazem trabalho social em Brasí­lia e analisar qual seria a mais viável, de acordo com o perfil de cada um, para ajudar como voluntário.

Lembro de uma cena do filme "O Jardineiro Fiel" (o melhor filme que vi ano passado), do super diretor Fernando Meireles, em que Tessa, após sair do hospital, quer que o marido dê carona para um garoto e a irmã (ou mãe, não lembro. Eles estavam no mesmo hospital e iam levando o filho que a outra irmã acabara de parir e, em seguida, morrera) até a casa deles, que era bem longe e eles teriam de ir a pé, mas o marido diz que não pode, pois tem de levá-la para casa. Tessa tinha acabado de perder um bebê e as recomendações eram repouso absoluto. De tanto ela insistir, ele fala: "vc não pode ajudar o mundo todo" E ela responde: "mas essas pessoas eu posso". Em outra cena, acontece algo parecido e ele diz isso para outra pessoa...ele havia aprendido com Tessa. Ah, esse filme é emocionante, eu recomendo.

Outro filme que faz pensar é Hotel Ruanda, também do ano passado, que conta a história real de um gerente de hotel que salvou várias pessoas do massacre ocorrido durante a guerra civil em Ruanda, em 1994. O paí­s era dividido em dois grupos (os Hutus e Tutsis), classificados aleatoriamente de acordo com as característcas físicas, e não eram nada diferentes em um ou em outro. Revoltados por terem sido, segundo eles, subjugados durante anos pelos Tutsis, os Hutus começam uma sangrenta limpeza étnica, matando todos os tutsis que viam pela frente. O gerente abrigou várias pessoas no hotel, protegido por soldados da ONU, que não estavam autorizados a intervir no massacre. Aliás, ninguém interviu na guerra até a morte cruel de milhares de pessoas. Uma equipe de tv britânica, se não me engano, fez algumas imagens do massacre e mostraram no telejornal do horário nobre. O gerente de hotel ficou esperançoso de que aquelas imagens pudessem sensibilizar o resto do mundo e alguém, finalmente, pudesse intervir na guerra. Mas o chefe da equipe de reportagem disse a ele algo como: "Não tenha tanta certeza. As pessoas que vêem isso, dizem "nossa, que horror, e continuam seu jantar tranquilamente".

Acho que isso aconteceu ontem depois que muitos viram o documentário sobre as crianças brasileiras que trabalham para o tráfico de drogas. E para quem não assistiu, a brincadeira preferida das crianças é simular a venda de drogas e o assassinato (de forma mais cruel possí­vel)de quem dedurar (chamado de X-9) o grupo para a polí­cia. Em outra cena, perguntado sobre o que queria serquando crescesse, um garoto que não aparentava ter mais de 10 anos, respondeu: "bandido". Simples assim!

3 comentários:

Ciléia Pontes disse...

Ah, com certeza eu acredito que cada um pode fazer um pouco, por menor que seja. Um dia desses vi no telejornal a história de um garoto que montou uma biblioteca na favela onde ele mora, em SP. Isso já faz uns 10 anos e hj a biblioteca dele é gigante. As crianças dessas favelas passam o dia lá e ele tá ajudando a montar outras bibliotecas em outros lugares. Legal, né?
Qto a creche, foi uma coisa tão pequena...queria poder fazer isso mais vezes, mas não há tempo e esse é um trabalho em que se precisa dos outros e nem sempre é possível conseguir o tempo e a colaboração de outras pessoas...

Ciléia Pontes disse...

Ah, com certeza eu acredito que cada um pode fazer um pouco, por menor que seja. Um dia desses vi no telejornal a história de um garoto que montou uma biblioteca na favela onde ele mora, em SP. Isso já faz uns 10 anos e hj a biblioteca dele é gigante. As crianças dessas favelas passam o dia lá e ele tá ajudando a montar outras bibliotecas em outros lugares. Legal, né?
Qto a creche, foi uma coisa tão pequena...queria poder fazer isso mais vezes, mas não há tempo e esse é um trabalho em que se precisa dos outros e nem sempre é possível conseguir o tempo e a colaboração de outras pessoas...

Anônimo disse...

Foi chocante mesmo. Brutal. Dei uma zapeada, e acabei vendo o documentário quase todo.
Sinceramente, fico perdida, sem saber mesmo o que fazer... A coisa é tão séria, endêmica, estrutural, começando com crianças que acabaram de aprender a falar...
Sei lá. Só reconstruindo o Brasil. Jogando uma bomba e recomeçando do zero.